Cheiro forte de enxofre e carne humana no ar teria atraído Orcs há quilômetros de distância. Uma bagunça sem tamanho e um alarido do tamanho da cidade acordou vários moradores, que curiosos pelas frestas das janelas viram muita coisa que os olhos não acreditavam.
Eles não pensaram nisso. Correram em socorro do amigo Geraldo que estava caído no meio do espaço da feira. Inconsciente. Com enormes olheiras e um aspecto pálido. A faca que estava ao seu lado ainda emanava o brilho lilás e Terminsel, o bruxo, a pegou cuidadosamente com um pano e a colocou na sua bainha trabalhada em pedra negra. Os demais com todo cuidado pegaram Geraldo pelos braços e começaram a arrastá-lo.
- Para onde o levaremos? – Inquiriu Amir.
- Ora, para taberna novamente. – Falou Bertrand com tom decisivo.
- Acho que lá não seja o melhor lugar. – Retrucou Aramor, o guerreiro. – Lá eles podem ter mais nos esperando.
- Mas Geraldo está precisando de ajuda, e no meio da rua ele vai morrer – Replicou Amir.
- Precisamos procurar um curandeiro ou medico – falou preocupado Terminsel.
- Então vamos, e sem mais demora tentaremos tirá-lo para um local mais seguro. Vamos até a taberna pegar nossos cavalos e tira-lo da cidade para nossa casa. – Enfatizou Aramor.
E assim eles tentaram fazer. Porém quando adentraram a rua da taberna onde deixaram seus cavalos e alguns pertences viram vários curiosos se aproximarem para saber o que houve. Os curiosos os cercaram e os dois da frente começaram a forçar passagem pela massa de curiosos. Logo a rua ficou estreita como um beco de curtiço e Amir e Bertrand começaram a notar nas mãos de alguns dos cidadãos armas. Machadinhas, machados, dardos, foices, varias armas. Foi quando um dos da multidão gritou:
- Estão pensando que vão matar os nossos e sair assim é?
E o cerco apertou. Olhares furiosos. Rostos de pedra fitando o grupo.
O grupo começou agora uma postura mais defensiva. Já não forçavam mais a passagem. Os primeiros golpes vieram dos homens armados. A resposta foi imediata. Três lâminas que pareciam raios cortavam o ar e a carne dos oponentes. Caíram cinco em uma rodada. Mais homens vieram e mais caíram. Dessa vez foram seis. No chão eles já se amontoavam. Vieram mais e mais, e aos poucos não havia mais espaço para homens do povo, apenas oponentes armados até os dentes. Mais golpes, mais quedas, os primeiros ferimentos nos do grupo, e a situação era suportável só por um curtíssimo espaço de tempo. Foi quando:
- Blang, bum, tráaaa, trummmm. Explosões uma após a outra. Uma luz forte e um cheiro de enxofre tomaram conta de tudo. Eles dentro do circulo de fogo e luz e o povo e os agressores fora. Uma voz vinda do beco a direita deles os alertava:
- Por aqui, rápido, venham – Um pequeno homem. Talvez 1,55m de altura. Magro como alguém bem preparado fisicamente e aparentando uns 65 anos. Um dos homens da multidão avançou além do muro de luz e fogo e foi em direção ao pequeno senhor. Este rapidamente, enquanto o homem erguia uma foice para parti-lo, tocou-o na região da clavícula, derrubando-o. E continuou a chamar o grupo.
Eles se entreolharam rapidamente, más foram. Beco a dentro o seguiram com Geraldo pendurado. Ele entrou habilidosamente por entre um monte de escombros e madeira. Um esconderijo imperscrutável. Foi difícil entrar com Geraldo naquele local, más eles conseguiram.
O pequeno homem os levou por galerias fedegosas, molhando os pés em águas usadas. Entrou numa rachadura grande que havia na galeria à esquerda. Seguiram com dificuldades de ver o caminho. E ele chegou em uma parede sólida. Acionou um mecanismo e abriu uma porta na pedra. Pareceu mágica.
- Entrem. Aqui vocês estarão seguros – Falou em tom tranqüilo.
E eles entraram e o homem indicou um local para eles depositarem Geraldo. Na observação de Amir Geraldo ofegava. Olhos com enormes olheiras e o ferimento não sangrava, más tinha uma secreção roxa saindo da fenda na pele das costas.
- Ele não está bem. – Disse Amir com tom bastante preocupado.
- Não está. – Concordou o anfitrião – E não vai ficar tão cedo. Conheço o efeito dessa arma que o atingiu. Serão necessários cuidados muito especiais.
- O senhor tem como cuidar dele? – Perguntou Bertrand com sua fala também preocupada.
- Eu vou tentar.
E ele começou a mexer em armários que pareciam guardar tesouros em forma de ervas e ungüentos. E ferveu água e iniciou a ministração de uma variedade de ervas e pomadas.
Enquanto ele agia o grupo debatia:
- E agora? – Inquiriu Amir
- Agora vamos resgatar o nosso amigo das mãos dos integrantes da Guilda do Vento Negro. – Respondeu Bertrand com a certeza de sempre.
- Sim, mas como fazer isso? – Amir falou ainda com tom preocupado.
- Como eu não sei, mas tem que ser feito, vamos lá fazer! – como sempre, o Cavaleiro Aramor era decisivo e simples nas suas colocações. Ou era ou não.
- Precisamos de um jeito de entrar na cidade sem sermos notados. Pois pelo que vimos não vamos durar trinta minutos se seguirmos pela rua aberta. Eles já tem nossa companhia como alvo. Já sabem que estamos contra eles e que procuramos o verdadeiro Juiz Guifford. – Concluiu bem Terminsel.
- E então como entrar um grupo de quatro homens sem ser notado? Não é fácil.
O homem que os ajudava ainda estava terminando de dar assistência a Leonel quando falou:
- O seu amigo vai ficar assim por cinco dias. Más escapou do pior. Ele não os deixará. – Explicou o senhor que os ajudava – Mais nada pode ser feito por ele por enquanto.
- Então nos vamos até a Cidade Oeste e resgatamos o verdadeiro Guifford. Agora o problema é ser notado. Devem ter pelo ou menos uns mil homens da guilda na cidade leste.- Retrucou Amim. – Senhor, o senhor ainda não nos disse seu nome.
- É verdade. É que ainda não estou acostumado com os costumes de vocês do ocidente. Eu sou Huang, e venho de um oriente distante e arrasado por guerras. Estou vivendo aqui por que a intolerância de alguns daqui dessa cidade me fizeram ter que desaparecer por um tempo.
- Senhor Huang, - Dirigiu-se a ele Bertrand – Eu gostaria de aprender aquele toque que o senhor deu no guerreiro na rua.
- Claro senhor cavaleiro. Assim que tivermos tempo. E em relação a Cidade Oeste eu tenho como introduzir vocês lá a partir de um ponto alto. Vocês vão até lá sem serem vistos de jeito nenhum. Eu garanto.
- Então vamos logo. – Disse Amim. – Podemos aproveitar o escuro pra saber onde pode estar o nosso amigo Guifford.
Ótimo senhores. Então vamos nos reequipar e partir para a Cidade Oeste pelo caminho que o senhor Huang vai nos indicar. – Falou Aramor.
Em alguns instatantes Huang apareceu vestido com uma roupa de combate oriental. Um tipo de armadura de bandagens camuflada de tons de cinza, lembrando pedra ou alvenaria.
- Estou pronto.
Os outros levantaram, conferiram os equipamentos. Terminsel parecia ainda estar se concentrando para canalizar suas energias. Eles seguiram Huang.
O pequeno oriental seguiu por becos e galerias até adentrar a grande muralha externa que fortifica a cidade. Subiram vários lances de escada e passaram por salas onde antigos combatentes guardavam armas e provisões. Lanças, arcos, bestas, espadas e armaduras aos milhares em várias salas de armoriais. Eles seguiram corredores que pareciam estar há nos sem nenhuma atividade. Depois de muito tempo apareceram uma varanda que dava visão do lado interno da muralha. A cidade a noite era realmente escura. Poucos se aventuravam nas ruas e becos. Poucas luzes. E eles seguiram pelas varandas da muralha até passar pelo muro que divide as cidades sul e leste. Continuaram até chegar numa parte do muro que antes era usado para troca de aguarda entre “rotas de guarda” do muro. De lá lançaram uma corda para descer num beco que dava acesso a rua principal da Cidade Leste.